ARTIGO: A indústria e a agenda do clima
Embora os processos industriais sejam responsáveis por apenas 7% do total das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, a indústria está comprometida com a preservação do meio ambiente e vem trabalhando para reduzir os impactos das mudanças climáticas e mitigar as emissões. Essas questões são cada vez mais cruciais para a sustentabilidade dos negócios e das sociedades e é vista também como oportunidade de alcançarmos novos patamares de desenvolvimento, mais colaborativos e sustentáveis.
Pesquisa recente realizada pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
com cem gestores de médias e grandes indústrias mostra que os empresários aumentaram a atenção aos efeitos das mudanças climáticas. Desses, 61% informaram que a empresa leva em consideração esses efeitos sobre os negócios e 66% adotaram medidas que reduziram as emissões de gases de efeito estufa, como gestão de resíduos ou investimentos em projetos de eficiência energética.
Há inúmeros exemplos de iniciativas ambientalmente sustentáveis dentro e fora das fábricas. Além disso, indústrias, especialmente de grande porte, estão disseminando conhecimentos e capacitando a cadeia de fornecedores para a adoção de práticas que respeitem o meio ambiente. A maioria percebe ganhos, não só ambientais e de reputação da marca, mas econômicos, pela maior eficiência de processos e redução do consumo de matérias-primas.
Para potencializarmos esses esforços, é necessário estimular os investimentos em tecnologias mais limpas e em iniciativas criativas que reduzam as emissões. Também é preciso maior compatibilização da Política Nacional sobre Mudança do Clima com outras políticas, como a fiscal, a tributária, a de investimento, a de resíduos sólidos, a de gestão hídrica, a de florestas, entre outras. O planejamento eficiente e integrado é fundamental para garantir a segurança jurídica e o sucesso das ações de redução das emissões de gases de efeito estufa e de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.
Além disso, a regulamentação do mercado de carbono seria um estímulo a mais para empresas brasileiras. Dos gestores que se consideram informados sobre esse mercado, 71,6% acreditam que isso representaria uma oportunidade de negócios para as empresas.
Em relação ao setor de energia, em que a indústria é responsável por menos de um terço do consumo, é importante que o país invista na diversificação da matriz energética, aumentando a eficiência e segurança na geração e garantindo preços competitivos. Por outro lado, a ampliação da geração por fontes renováveis, como a eólica e a solar, gera novas oportunidades de negócios para o Brasil, que possui disponibilidade privilegiada de radiação solar e de ventos.
Também é importante melhorar a infraestrutura logística, o que contribuiria para a redução significativa de gases do efeito estufa, além de reduzir custos no escoamento da produção industrial e agrícola e gerar ganhos econômicos para toda a sociedade. A CNI elaborou uma série de estudos em que identifica projetos prioritários nas cinco regiões brasileiras para integrá-las em um sistema logístico eficiente, que prevê a construção de uma plataforma multimodal que integra rodovias, ferrovias e hidrovias. Nos estudos, são identificados mais de 300 projetos prioritários em todo o País.
Aliado a isso, é essencial ainda alavancar programas de uso e produção de combustíveis sustentáveis. É necessário ter planejamento de longo prazo para o setor, que propicie um ambiente favorável a novos investimentos. Os biocombustíveis, por exemplo, aportam muitas vantagens para o Brasil: ambientais, com redução de emissões diretas e indiretas; sociais, com a geração de novos postos de trabalho; econômicas, via desenvolvimento regional e redução das importações de combustíveis fósseis.
Para a sobrevivência de economias, é fundamental considerar ações de redução das emissões e os efeitos das mudanças climáticas em políticas públicas, programas governamentais e estratégias de negócios. A indústria, como parte da sociedade, tem realizado esforços significativos para reduzir as emissões e acredita que é possível ir além. Isso exige um trabalho mais integrado com o governo e com o restante da sociedade, por meio de definição de objetivos claros e da elaboração de uma estratégia construída com base no diálogo, considerando os potenciais e as necessidades de cada segmento econômico.
É preciso ver essa questão também como oportunidade para melhorar a gestão pública, com redução da burocracia e elevação da capacidade técnica do Estado para formular e executar bons projetos. Nesse caso, a agenda ambiental torna-se fator crucial para a competitividade do País, com melhoria do ambiente de negócios e geração de emprego e renda, essenciais para manter o Brasil na rota do desenvolvimento sustentável.
O artigo foi publicado nesta segunda-feira (14) no jornal Valor Econômico.